Um líder que faz parte da equipe

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Neste artigo da palestrante Leila Navarro, vocês vão perceber a importância de um líder que faz parte da equipe que lidera.


Lider

Um líder que faz parte da equipe

“Chegou um momento inadiável. Dizer para vocês muitas coisas que, em várias ocasiões, não foi possível. O dia-a-dia nos toma tanto tempo e são tantas as prioridades que corremos o risco de esquecer e deixar passar chances únicas em nossas vidas. Mas temos de lembrar que, antes de sermos resultados, somos essencialmente humanos. Tenho muito a lhes dizer. Mas as palavras, que parecem leves, tornam-se ‘pesadas’ para mim. Fico com um nó na garganta.”

Quantas vezes isso já não aconteceu com um líder? Estar tão próximo a sua equipe, mas, ao mesmo tempo, quase sem perceber, tão distante? Este comportamento combina com uma visão de dirigente que se torna ultrapassada: aquela em que o líder manda e os colaboradores cumprem. Essa realidade ainda existe, mas o discurso da valorização do trabalho em equipe está ganhando cada vez mais território.

Formação cognitiva

Pessoas que ocupam cargos de liderança, em geral, trazem consigo uma formação sólida, currículo repleto de cursos, pós-graduações e MBAs. Basta? Sem sombra de dúvida, um currículo excelente. Porém, lidar com seres humanos requer muito mais do que estratégias e fórmulas.

Pesquisam indicam que a maioria dos executivos brasileiros ainda não encontrou um caminho eficaz para se comunicar com sua equipe. Esses executivos se consideram auto-suficientes, insubstituíveis, querem resultados rápidos e acham que ensinar seus colaboradores é perder tempo. Dirigem a equipe com pulso forte, parecem ser inabaláveis. É essa a ideia que todos têm de um líder. Mas, agora, os conceitos estão mudando: os líderes não só comandam uma equipe, mas também fazem parte dela.

Desatando nós

Chega a hora em que os “nós” devem ser desatados. O líder deve se sentir entrosado com sua equipe, mas isso não significa deixar seu lugar na liderança. Ser líder é também ser humilde. Somente dessa forma ele tem chances de ser um bom líder: tendo a certeza de que, sozinho, jamais conseguirá cumprir sua missão.

GandhiExemplos de grandes mestres da humanidade nos dão uma noção do que significa a arte de liderar: Gandhi, São Francisco de Assis (que não desprezava nem os animais), madre Tereza de Calcutá e outros, como o Dalai Lama, atualmente. Sem arrogância e com muito carisma, moveram e continuam movendo bilhões de pessoas por ideais comuns: a paz, a liberdade, a justiça. Que se saiba, nenhum deles sentou em bancos de universidades, porém traziam dentro de si um carisma sem limites e sabiam que, para levar sua missão adiante necessitariam de seus apóstolos, que continuaram a levar seus ensinamentos aos quatro cantos do mundo.

O líder não só ensina como também aprende com sua equipe e tem a consciência de que também deve a ela suas vitórias. Aprende não só de que maneira chegar às metas estabelecidas como também se torna um ser humano mais completo.

1. O líder eleito como carismático

Ser uma pessoa carismática conta muitos pontos. Quando ela se torna um líder, então, tem em mãos uma qualidade essencial. Consegue, naturalmente, tratar a todos a seu redor com magnetismos, simpatia, bom humor, segurança e positivismo.

Há uma fábula que mostra o quanto o carisma se resume na autenticidade do ser. É sobre uma centopeia que sabia dançar bem e chamava muito a atenção por isso. Uma tartaruga invejosa perguntou à centopeia em que sequência ela mexia suas 100 perninhas enquanto dançava. Aí, a centopeia, pela primeira vez, parou para pensar sobre o assunto e… desaprendeu a dançar. Uma pessoa carismática é a mesma coisa: não há um manual que a ensine a ser assim. Ela é porque é e sabe vender seus sonhos com inteligência, motivando sua equipe.

Um líder notável é aquele que combina carisma com a confiança em sua equipe, a credibilidade e a competência. É como um ímã que atrai as pessoas e faz sua energia chegar até elas com ensinamentos, através de palavras, atos ou gestos. Além de todas essas qualidades, é sensível e disposto a ouvir toda a equipe. Mesmo sendo objetivo, não magoa as pessoas que trabalham com ele. E, se isso acontece, sabe que um pedido de desculpas é indispensável.

2. A arte de delegar

DelegarAlém de transferir tarefas ou papeis operacionais, o líder precisa saber delegar. Porém, nem todo líder dá a liberdade para que seus funcionários decidam, julguem e executem tarefas de acordo com métodos próprios. É comum, segundo especialistas, que os funcionários assumam mais responsabilidades, mas a visão geral continua com o líder. Isso porque muitos chefes caem no perfeccionismo e se prendem a detalhes.

O líder continua a tomar as decisões exemplarmente, mas não demonstra, por exemplo, disposição para correr riscos e por isso não passa a bola para seus subordinados. Ou seja, mesmo com o discurso louvável da necessidade de trabalhar em equipe, o líder continua concentrando responsabilidades.

Delegar é uma competência também do líder. O trabalho de um líder não deve estar somente ligado às estratégias e ao crescimento dos negócios da empresa. Ele também deve permanecer de olho nos talentos humanos que possui em sua equipe.

Saber delegar é uma arte e deve ser encarada como uma vitória. Afinal, identificar o potencial de cada membro da equipe e utilizá-lo para obter os melhores resultados é positivo para a organização e para o próprio líder.

Conhecendo e desafiando a equipe

No dicionário, a palavra equipe significa pessoas que, juntas, participam de uma competição, tarefa ou trabalho. Mas esse significado exige bem mais do que essa simples definição. É um paradoxo: ser uma equipe é tão simples, mas tão desafiador no dia-a-dia.

Quando uma equipe possui uma liderança capaz de entender seus membros e auxiliá-los o máximo possível a seguir um caminho coerente, ela cresce e amadurece, aprendendo a vencer as dificuldades. Com isso, projetos inovadores, que são um verdadeiro desafio, têm grandes chances de ser colocados em prática com sucesso. É o momento em que o líder exige mais de seu grupo, colocando padrões elevados de expectativa para todos, porém não sendo, necessariamente, um chefe autoritário.

O chefe pode explicar os motivos para tal projeto, mostrar as opções e conduzir a conversa a um ponto em que todos concluem que a ideia é realmente interessante e merece investimento.

O líder acaba se tornando também um caça-talentos, com grande sensibilidade para maximizar as capacidades dos colaboradores. Ele avalia a progressão de cada um do grupo e só assim pode encaminhá-lo para tarefas mais exigentes.

Os resultados vêm aos poucos. Assim, alguns integrantes otimizam o desempenho na mesma função e outros têm suas tarefas remanejadas, mudanças que fortalecem ainda mais o grupo. Se um líder quer que sua equipe seja a melhor, então deve preparar cada um para ser o melhor.

3. Motivando a equipe

Situação comum é encontrar o grupo desmotivado, e isso por várias razões: falta de desafios, desentendimentos entre os próprios integrantes, insatisfação com as políticas da empresa. Os resultados disso aparecem nos projetos que não alcançam os objetivos esperados.

Ma o que tem a ver o líder com tudo isso, se sua função é só delegar tarefas? Além do mais, os funcionários são pagos para trabalhar e produzir resultados.

Não é bem assim. A distância entre bons projetos na teoria e projetos bem-sucedidos na prática requer muito trabalho e precisa de pessoas qualificadas e motivadas. De nada adianta passar e repassar informações se o grupo está “fora de sintonia”, falta cooperação e confiança. São desgastes que levam o trabalho em equipe por água abaixo.

Um líder, além de delegar funções, sabe que é positivo conversar em grupo ou individualmente, quando se trata de descobrir um caminho para detectar os ruídos no grupo. Só colocando em pauta as desavenças os integrantes podem falar a mesma língua, se entender e perceber que é possível trabalhar juntos, desde que um respeite o espaço do outro. Para isso, é necessário que a liderança esteja presente e equilibre o grupo. São nessas ocasiões que as lideranças devem ter mais do que especializações em suas carreiras. Precisam de sensibilidade para lidar com o outro, reconhecer as crises no grupo e saber contorná-las, promovendo a motivação de seus integrantes. São desses fatores que nasce o sucesso de uma equipe e é desse sucesso que nascem o prazer de pertencer a ela, o bem-estar, a admiração por ela e o amadurecimento pessoal e coletivo.

A sensação de incapacidade

Há situações em que os membros do grupo acreditam não ser capazes de cumprir a tarefa da maneira como foi solicitada ou no tempo estipulado. Pode ser que estejam acostumados a um determinado limite e se sintam incapazes de ir além. Um líder confiante na capacidade de sua equipe e que conhece o potencial de cada um tem um grande papel nesse momento: motivar, provocar, acreditar.

Richard Bach escreveu um livro cujo protagonista é Fernão Capelo Gaivota, uma gaivota que pôs na cabeça que poderia voar tão alto quanto uma águia. Mas sabemos que gaivotas não foram criadas para ficarem tão distantes no céu. Porém, Fernão se recusava a fazer voos baixos e sempre treinava suas asas a voar o mais alto possível. Era motivo de piada e dissidência em seu bando, que já o estava considerando maluco. Indiferente aos comentários alheios, a cada dia ele foi treinando mais e mais para voar alto.

CidadeA gaivota, enfim, atingiu seu objetivo. Mas, antes disso, caiu e se machucou muito, porém nunca abandonou sua meta. O bando quis fazer o mesmo, mas não tinha a mesma determinação. E Fernão olhou o mundo bem lá de cima e o achou mais bonito, mas lamentou pelos companheiros que desacreditavam seus sonhos e suas capacidades.

Na posição de líder, é necessário confiar em seu grupo e fazê-lo acreditar que voar mais alto é possível e que “olhar o mundo de cima” é bem mais compensador do que ficar à margem da praia, contentando-se com restos de peixe para se alimentar.

Desafios me fazem sentir vivo

Mesmo que os objetivos à frente pareçam impossíveis, o grupo deve acreditar que é possível alcançá-los. Isso significa aceitar desafios. O ser humano necessita de desafios para sentir-se vivo, capaz e útil. O líder deve ser o primeiro integrante da equipe a aceitar desafios e motivar a todos, fazendo com que acreditem que cada novo dia é um desafio que merece ser vencido!

Autor: Ronaldo Lundgren

Possui graduação pela Academia Militar das Agulhas Negras; é Mestre em Estudos Estratégicos pelo US Army War College; e Doutor em Ciências Militares pela Escola de Comando e Estado-Maior do Exército.

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