por Ronaldo Lundgren.
Este post tomou por base os trabalhos de Shirle Rosângela Meira de Miranda e de Maria Rosa Pires da Cruz.
A trajetória dos estudos da liderança pode ser dividida em quatro estágios principais, cada um deles associado a um período:
Abordagem do traço pessoal
Segundo Paul Hersey e Kenneth Blanchard (1986), os estudos e as pesquisas sobre liderança por muitos anos concentraram-se nos traços da personalidade ou na suposição de que características como força física e amabilidade fossem essenciais para se exercer liderança.
Diferentes traços pessoais foram investigados por pesquisadores, sendo divididos em três grupos principais: traços físicos, altura e aparência; habilidades como inteligência e fluência de discursos e características de personalidade como conservadorismo, introversão, extroversão e autoconfiança.
Segundo Cecilia Bergamini (1994), o sucesso desta teoria pode ser atribuído às pesquisas desenvolvidas nos anos de 1920 a 1950 com o incremento dos testes psicológicos. Ralph Stogdill e Richard Mann, utilizaram resultados de pesquisas acerca da liderança realizadas no período de 1904 a 1948 para identificar 124 projetos com enfoque nos traços de liderança.
A análise destes estudos possibilitou aos pesquisadores elencar aproximadamente 34 traços de personalidade considerados como qualidades essenciais dos líderes eficazes, entre estes traços estão sociabilidade, habilidades interpessoais, autoconfiança, ascendência e domínio, fluência verbal, participação das trocas sociais, busca de responsabilidade, equilíbrio emocional e controle.
No entanto, os resultados de cinquenta anos de pesquisa não foram suficientes para provar que algum traço de personalidade ou conjunto de qualidades poderiam ser usados para distinguir os líderes dos não líderes (HERSEY; BLANCHARD,1986).
Abordagem do estilo de liderança

A abordagem do estilo de liderança surgiu a partir dos anos 1930, sinalizando uma mudança no foco que até então vinha sendo estudado.
Enquanto a abordagem dos traços de personalidade chamou a atenção para os tipos de pessoas que se tornaram líderes, a abordagem do estilo de liderança focou no comportamento dos líderes, afirmando que estes poderiam ser modificados, dando ênfase no treinamento e não mais na seleção dos líderes.
Essa teoria avançou de forma significativa ao negar o fator nato e inato para explicação do fenômeno na liderança passando a considerar a possibilidade de desenvolvimento de líderes por meio de treinamento.
Os estudos realizados nesta direção analisaram a relação entre o estilo de liderança e suas implicações no relacionamento do grupo com base no contínuo comportamento autocrático-autoritário elaborado por Robert Tannenbaum e Warren Schmid, onde três estilos de liderança foram identificados:
a) Estilo Democrático – é o estilo de liderança cuja ênfase está na participação, no envolvimento dos funcionários, nas tomadas de decisões, na delegação de autoridade, no trabalho coletivo e na preocupação com as relações humanas no trabalho. O poder do líder precisa ser legitimado pelo grupo.
b) Estilo autocrático – Estilo de liderança cuja ênfase é na figura de autoridade da organização, na centralização do poder e na execução da tarefa. O poder do líder é delegado e se fortalece pela posição assumida e pela capacidade de cumprimento destas tarefas.
c) Estilo Laissez-faire – estilo de liderança caracterizado pela ausência de direcionamento, o líder deixa o grupo à vontade para agir de acordo com sua conveniência.
Segundo Hersey e Blanchard (1986), a partir destes resultados e visando identificar padrões de comportamento que resultassem num desempenho ideal dos líderes, pesquisadores da Universidade de Michigan identificaram dois estilos de comportamento de liderança:
O primeiro deles focado no funcionário e voltado para as relações humanas; e o segundo focado na produção com ênfase na tarefa.
Com base nestes estudos passou-se a distinguir claramente duas orientações de comportamento, o estilo de liderança autoritário e o democrático.
Abordagem contingencial
Com a evolução dos estudos, no inicio da década de sessenta, a abordagem sobre o estilo de liderança que buscava identificar o comportamento ideal do líder começou a demonstrar suas fragilidades e seu caráter pouco realista.
As pesquisas começaram a mostrar que fazer um prognóstico sobre o êxito da liderança podia ser tão ou mais complexo do que identificar traços ou comportamentos, o contexto situacional precisava ser considerado.
As pesquisas então passaram analisar além do comportamento dos líderes, as situações que pudessem interferir na eficácia de um líder em comparação a outro sob as mesmas circunstâncias.
Surge assim a abordagem contingencial que se destacou a partir da década de 1960. Os fatores situacionais passaram a ser o centro de qualquer entendimento de liderança, especificando as variáveis situacionais que moderarão a efetividade das diferentes abordagens de liderança.
O enfoque situacional estuda o comportamento tal como é observado no ambiente, distanciando da compreensão da liderança enquanto uma habilidade hipotética ou potencialidade inata ou adquirida. A ênfase no comportamento e no ambiente torna possível, através do treinamento, adaptar os estilos de liderança às mais variadas situações.
Dentre as diversas teorias contingenciais encontradas na literatura, as que tiveram mais destaque e que são consideradas as mais importantes, segundo Tirmizi (2002), são:
- a teoria contingencial de Fred Fiedler, construída na década de 1960;
- o “Paths goal theory” de Evans;
- House e Mitchell na década de 1970; e
- o modelo de participação do líder de Vroom e Yetton nesta mesma década.
Um dos mais conhecidos exemplos do pensamento contingencial é o modelo de efetividade de liderança de Fiedler. Para Fiedler, a grande importância desta abordagem está no fato de que a eficácia da liderança depende tanto da situação em que o grupo se encontra quanto do comportamento do líder.
A obra de Fred Fiedler marca o início dos estudos das Teorias das Contingências, surgindo assim o conceito do líder adaptativo, cuja análise parte do principio que a eficácia do líder depende do desempenho do grupo, do ajuste entre o estilo do líder e o nível de influência sobre a situação. Seus estudos apontaram que a mudança do líder para se adequar às situações é condição essencial para a melhoria da eficácia no seu desempenho.
Os estudos baseados nas abordagens de contingências apontaram para o fato de que não existe uma única forma melhor de liderar nem tampouco existe um único estilo de liderança que será sempre eficaz, independentemente da situação.
Para Hersey e Blanchard, “Os líderes eficazes são capazes de adaptar seu estilo de comportamento às necessidades dos liderados e a situação, sendo estas não constantes, o uso do estilo apropriado de comportamento do líder constitui um desafio para cada líder eficaz.”
Abordagem da nova liderança
A expressão “nova liderança” tem sido utilizada, segundo Alan Bryman, para descrever e categorizar uma série de abordagens sobre o tema que despertou o interesse de pesquisadores nos anos 1980. São vários os termos utilizados para apresentar os novos tipos de liderança como: liderança transformacional; liderança carismática; liderança visionária; ou somente liderança.
Esta abordagem baseia-se numa representação de líderes como gestores de significados e não mais nos termos de processo de influência.
Nesta concepção, segundo Bernard Bass, amplia-se o conceito de liderança, que passou a ser compreendida como a capacidade de modificar o comportamento das pessoas pela interação que acontece entre o líder e seus seguidores. Estes admitem a autoridade e a validam. A influência exercida pelo líder vai além da aceitação mecânica de procedimentos normativos e rotineiros.
Após tantos anos de pesquisas sobre o tema, os atributos de um líder eficaz, ao que demonstram as pesquisas ainda não são consensuais. No entanto, a celeridade nos processos de mudanças organizacionais que vem ocorrendo nas últimas décadas aumenta o desafio do líder contemporâneo quanto a escolha do estilo mais desejável de liderar.
Warren Bennis acredita que os líderes mais adaptáveis buscam soluções criativas para problemas difíceis. Para o autor, as principais qualidades exigidas dos novos líderes são: a direção e o significado que se dá ao trabalho, o que compreende paixão e perspectiva; a confiança fundamentada na ambição e impulso, competência, autenticidade e integridade; o otimismo associado à perseverança e persistência.
As novas teorias fazem referência aos líderes que conquistam a confiança e o respeito dos seguidores, tornando a liderança um processo permanente e de constante adaptação, onde o comportamento do líder altera à medida que se recebe o feedback dos seguidores.
Independente sob que enfoque a liderança é compreendida, parece haver consenso quanto a sua importância para o desempenho efetivo das equipes.
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