Para uma nova abordagem à motivação empreendedora
por Inès Gabarret, Benjamin Vedel.
A motivação é um tema bem conhecido na literatura de gestão e tem sido estudado há muito tempo fora da estrutura do empreendedorismo.
Foi originalmente definida como a energia que impulsiona a ação.
Um grupo de autores considera a motivação como:
- um impulso que visa a satisfação de uma necessidade (A. Maslow, 1954; F. Herzberg, 1959; C. Alderfer, 1969; D. McClelland, 1953);
- a realização de objetivos estabelecidos com antecedência (E. Locke, 1968);
- uma resposta atitudinal a uma situação que parece injusta (J. Adams, 1963);
- o cumprimento de uma expectativa (V. Vroom, 1964).
Do ponto de vista psicológico, a motivação tem sido explicada como um condicionamento. Um comportamento que visaria evitar a dor e a busca da felicidade e do prazer (B. F. Skinner, 1963).
Finalmente, um quadro final divide a motivação em duas subdimensões: intrínseca e extrínseca. A primeira refere-se à busca do interesse próprio, enquanto a segunda olha para a recompensa que segue determinado comportamento, como dinheiro e status (A. Carsrud e M. Brannback, 2011).
Neste texto, estamos interessados na motivação empreendedora.
A literatura sobre motivação empreendedora considera que a criação de um negócio pode ser escolhida ou imposta. Pode ser desencadeada pela presença de uma oportunidade de negócio, ou pela necessidade de remuneração em caso de desemprego.
Seguindo essa visão, geralmente aparecem duas dimensões exclusivas, denominadas “push” e “pull” respectivamente.
As dimensões
A abordagem “push” corresponde ao conceito de empreendedorismo por necessidade.
Tem dois aspectos. A primeira, de natureza econômica, diz respeito ao fato de não ter emprego. A segunda, de natureza não econômica, é materializada pela insatisfação no trabalho.
No outro extremo, a abordagem “pull” corresponde ao empreendedor por oportunidade.
Também tem dois componentes (econômico e não econômico): a descoberta de uma oportunidade de negócio e o desejo de independência.
Uma particularidade dessas abordagens é a natureza mutuamente exclusiva das dimensões “push/pull”. Alguém é push ou pull, não podendo ser os dois ao mesmo tempo.
No entanto, as mudanças no ambiente de trabalho têm gerado perfis atípicos de empreendedores.
Todas essas novas figuras empreendedoras diferem da visão monolítica do empreendedor do passado. O momento é de autonomia, em busca de sentido.
Surge então a questão: até que ponto a abordagem necessidade/oportunidade é adequada para interpretar a motivação empreendedora?
Motivação empreendedora
Os estudos têm mostrado que a motivação empreendedora pode variar ao longo do tempo, e revelar-se diferente em cada grupo de empreendedores.
A motivação empreendedora não se limita às duas dimensões acima relatadas: “pull” (oportunidade, independência) e “push” (necessidade e insatisfação).
Foram observadas quatro dimensões distintas:
- oportunidade econômica (representada pela possibilidade de aumento de renda);
- necessidade (consequência do desemprego);
- insatisfação com o trabalho anterior; e
- desejo de trabalho, autonomia e independência.
Ao mesmo tempo, verifica-se que as análises baseadas na distinção “push/pull” causam dificuldades em termos de interpretação. De fato, o desejo de independência atrai e empurra o indivíduo para o empreendedorismo.
As quatro dimensões podem ser vistas de forma positiva ou negativa. Por exemplo, a satisfação no trabalho pode ser entendida como um fator negativo (a insatisfação que empurra o indivíduo para a criação de um negócio), ou como um fator positivo (a procura de satisfação que atrai para a criação de um negócio).
Uma nova abordagem
Além das múltiplas abordagens para estudar a motivação empreendedora, o modelo “push/pull” continua sendo o mais utilizado na pesquisa em Ciências da Administração.
A facilidade de uso do modelo o tornou um sucesso.
No entanto, a ferramenta é criticada pela exclusividade de escolha e requer adaptação. O modelo é restritivo quando se trata de explicar as motivações de novos perfis de empreendedores.
De fato, estudos mostram que os indivíduos pesquisados são forçados a escolher entre uma motivação “push” ou “pull”, não havendo espaço para uma opção entre esses dois extremos.
Assim, aqueles que estão no meio tendem a escolher a opção push. Isso se explica pelas conotações negativas associadas ao empreendedorismo por necessidade. As conclusões do estudo podem subestimar o empreendedorismo por necessidade e superestimar o por oportunidade.
Em geral, considera-se que a criação de empresas é desencadeada mais por situações negativas (como guerra, desemprego, insatisfação) do que por situações positivas.
No entanto, as mudanças na vida de um indivíduo serão causadas por uma combinação de fatores positivos e negativos, ou seja, por combinações de fatores push e pull.
Diante dos problemas de uma classificação mutuamente excludente, vários autores propõem que a motivação empreendedora seja estudada como um continuum ao longo do qual podem existir diferentes combinações de fatores.
Assim, os últimos estudos sobre motivação empreendedora classificam os empreendedores em três grupos: motivação push, motivação pull e motivação mista.
Fatores
A motivação empreendedora é composta por múltiplos fatores, entre os quais são frequentemente citados:
- desejo de independência;
- atração pelo ganho;
- necessidade de realização;
- personalidade do indivíduo;
- identificação de uma oportunidade;
- busca de um estilo de vida;
- controle do próprio destino;
- segurança econômica da família; e
- construção de um negócio transmissível.
Além dessa complexidade, certos elementos aparecem regularmente:
- Importância de uma recompensa monetária extrínseca (a aquisição de riqueza, o aumento da renda);
- Necessidade de uma recompensa intrínseca relacionada à realização de uma tarefa (perseguir um desafio, crescer);
- Busca de autonomia e independência (manter a liberdade, criar o próprio emprego, ser o próprio patrão, controlar o próprio destino); e
- Segurança de sua família (garantir o futuro econômico de sua família, criar um negócio para repassar aos filhos).
4 componentes
Para além das classificações “push/pull”, a motivação empreendedora pode ser entendida através de quatro grandes componentes:
- dois dos quais de natureza econômica:
- (1) a necessidade de um meio de subsistência ou de criação de emprego próprio na a falta de oportunidades no mercado de trabalho; e
- (2) o desejo de melhorar a renda ou a possibilidade de ter um negócio altamente lucrativo.
- outros componentes não econômicos:
- (1) a busca por um trabalho satisfatório, no qual o indivíduo possa expressar todas as suas capacidades e realizar todos os seus sonhos profissionais; e
- (2) o desejo de independência e autonomia, de prestar contas apenas si mesmo.
Essa representação em quatro componentes permite entender a motivação empreendedora como combinações específicas de diferentes fatores.
Um indivíduo pode se sentir motivado pela criação empreendedora porque encontrou uma oportunidade de negócio (motivação por oportunidade). Mas esse mesmo indivíduo pode se sentir insatisfeito em seu trabalho e querer deixar seu cargo (motivação por insatisfação).
Neste exemplo, o indivíduo está limitado a escolher uma motivação “pull” (oportunidade) ou “push” (insatisfação). Uma ou outra. Sua escolha não será totalmente representativa de sua motivação, pois é, na realidade, uma composição de fatores “pull” e “push”.
Além disso, um indivíduo pode se sentir insatisfeito em seu trabalho (motivação por insatisfação), mas não querer encontrar outro emprego, atraído por um desejo de autonomia e independência (motivação por independência). Aqui, sua escolha (“push” ou “pull”) também será parcialmente representativa.
Ao retirar a exclusividade na escolha dos fatores motivacionais, os pesquisadores podem avaliar os motivos que levam cada indivíduo à criação empreendedora e apresentar um quadro mais representativo de suas reais motivações.
Considerações finais
O empreendedorismo está se tornando cada vez mais importante, se desenvolvendo e se tornando mais complexo.
A motivação empreendedora é um conceito que tem sido bastante estudado, mas que ainda é suscetível de evoluir. Com a ascensão do empreendedorismo e a entrada no campo da criação de negócios de novos perfis de empreendedores.
Além disso, alguns estudos indicam a existência de uma ligação entre motivação e desempenho. Isso implica que a ajuda (apoio, financiamento) pode ser concedida mais facilmente a um tipo de empresário em detrimento de outro.
Por fim, a compreensão dos motivos que levam os indivíduos a criar negócios também permitirá oferecer um suporte personalizado adequado.
Referência(s)
Inès Gabarret, Benjamin Vedel – Pour une nouvelle approche de la motivation entrepreneuriale.