Evolução dos estudos sobre liderança

Share

por Ronaldo Lundgren.

Evolução dos estudos sobre liderança

Evolução dos estudos sobre liderança

Este post tomou por base os trabalhos de Shirle Rosângela Meira de Miranda e de Maria Rosa Pires da Cruz.


A evolução dos estudos sobre liderança percorreu um caminho fascinante ao longo da história. As teorias tradicionais da liderança vêem a relação entre líderes e seguidores como ativa e passiva. Nas novas teorias, a liderança é um processo contínuo, ajustado, onde o comportamento do líder muda de acordo com o feedback dos seguidores.

A trajetória do estudo da liderança pode ser dividida em quatro estágios principais, cada um deles associado a um período:

1) a abordagem do traço pessoal, que predominou até o final dos anos 1940;
2) a abordagem do estilo de liderança, que se manteve forte até o final dos anos 1960;
3) a abordagem contingencial, entre os anos de 1960 a 1980; e

4) a abordagem da nova liderança, que tem tido maior influência a partir dos anos 1980.

Abordagem do traço pessoal

Para essa abordagem, considera-se que os traços da personalidade ou que algumas características pessoais como força física e amabilidade fossem essenciais para se exercer liderança.Evolução dos estudos sobre liderança

Segundo Alan Bryman, diferentes traços pessoais foram investigados por pesquisadores, sendo divididos em três grupos principais: traços físicos, altura e aparência; habilidades como inteligência e fluência de discursos; e características de personalidade como conservadorismo, introversão, extroversão e autoconfiança.

Os resultados dessas pesquisas identificaram aproximadamente 34 traços de personalidade considerados como qualidades essenciais dos líderes eficazes. Entre estes traços estão:

  • sociabilidade;
  • habilidades interpessoais;
  • autoconfiança;
  • ascendência e domínio;
  • fluência verbal;
  • participação das trocas sociais;
  • busca de responsabilidade;
  • equilíbrio emocional; e
  • controle.

Essa abordagem tem como principal crítica o fato de não conseguir provar que algum traço de personalidade ou conjunto de qualidades de uma pessoa  poderiam ser usados para distinguir os líderes dos não líderes.

Abordagem do estilo de liderança

A abordagem do estilo de liderança focou no comportamento dos líderes, afirmando que estes poderiam ser modificados, dando ênfase no treinamento e não mais na seleção dos líderes.

Essa teoria avançou de forma significativa ao negar o fator nato e inato para explicação do fenômeno na liderança, passando a considerar a possibilidade de desenvolvimento de líderes por meio de treinamento.

Os estudos realizados identificaram três estilos de liderança:

a) Estilo Democrático – é o estilo de liderança cuja ênfase está na participação, no envolvimento dos funcionários, nas tomadas de decisões, na delegação de autoridade, no trabalho coletivo e na preocupação com as relações humanas no trabalho. O poder do líder precisa ser legitimado pelo grupo.

b) Estilo autocrático – Estilo de liderança cuja ênfase é na figura de autoridade da organização, na centralização do poder e na execução da tarefa. O poder do líder é delegado e se fortalece pela posição assumida e pela capacidade de cumprimento destas tarefas.

c) Estilo Laissez-faire – estilo de liderança caracterizado pela ausência de direcionamento, o líder deixa o grupo à vontade para agir de acordo com sua conveniência.

Os estudos sobre a abordagem do estilo de liderança, que buscavam identificar o comportamento ideal do líder, começaram a demonstrar suas fragilidades e seu caráter pouco realista. As pesquisas começaram a mostrar que fazer um prognóstico sobre o êxito da liderança, tomando por base um determinado estilo, era tão ou mais complexo do que identificar traços de personalidade ou comportamentos.

Abordagem contingencial

As abordagens anteriores não foram desprezadas, embora tenham falhas identificadas ao longo de novos estudos. Assim, pesquisadores passaram analisar além do comportamento dos líderes e seus traços de personalidade, as situações que pudessem interferir na eficácia de um líder em comparação a outro sob as mesmas circunstâncias. Daí, surge a abordagem contingencial, que passou a considerar os fatores situacionais como o centro de qualquer entendimento de liderança.Evolução dos estudos sobre liderança

As teorias contingenciais da liderança analisam como os fatores situacionais alteram a eficácia do comportamento e o estilo de liderança de um líder em particular. O pressuposto é de que nem as características dos líderes, nem o comportamento ou os estilos automaticamente formem líderes. A chave é a adequação entre os estilos de liderança e as situações enfrentadas pelos líderes.

Dentre as diversas teorias contingenciais encontradas na literatura, vale destacar a teoria contingencial de Fiedler, que tem como premissa o fato de que o desempenho do grupo é contingencial na medida em que depende da interação dos estilos de liderança e das situações favoráveis para o líder.

A obra de Fred Fiedler marca o início dos estudos das Teorias das Contingências, surgindo assim o conceito do líder adaptativo, cuja análise parte do principio que a eficácia do líder depende do desempenho do grupo, do ajuste entre o estilo do líder e o nível de influência sobre a situação. Seus estudos apontaram que a mudança do líder para se adequar às situações é condição essencial para a melhoria da eficácia no seu desempenho.

Os estudos baseados nas abordagens contingenciais apontaram para o fato de que não existe uma única forma melhor de liderar nem tampouco existe um único estilo de liderança que será sempre eficaz, independentemente da situação.

Abordagem da nova liderança

A partir da década de 1980, os estudos sobre liderança foram influenciados pela abordagem da nova liderança. São vários os termos utilizados para apresentar os novos tipos de liderança, como: liderança transformacional; liderança carismática; liderança visionária; ou apenas liderança.

O que há de semelhante entre essas novas teorias sobre liderança, de acordo com Carlos Cruz, é “o interesse pelo estudo de líderes históricos e gestores de grandes organizações que conseguiram obter excelentes resultados no seu trabalho, mesmo quando se encontravam perante situações de crise e de grande concorrência externa”.

Esta abordagem baseia-se numa representação de líderes como gestores de significados e não mais nos termos de processo de influência. Nesta concepção, amplia-se o conceito de liderança, que passou a ser compreendida como a “capacidade de modificar o comportamento das pessoas pela interação que acontece entre o líder e seus seguidores” (Bernard Bass).

Considerações finais

Após tantos anos de pesquisas sobre o tema, os atributos de um líder eficaz, ao que demonstram as pesquisas ainda não são consensuais. No entanto, a celeridade nos processos de mudanças organizacionais que vem ocorrendo nas últimas décadas aumenta o desafio do líder contemporâneo quanto a escolha do estilo mais desejável de liderar.

Os líderes mais adaptáveis buscam soluções criativas para problemas difíceis. As principais qualidades exigidas dos novos líderes são: a direção e o significado que se dá ao trabalho, o que compreende paixão e perspectiva; a confiança fundamentada na ambição e impulso, competência, autenticidade e integridade; o otimismo associado à perseverança e persistência.

Acompanhar a evolução dos estudos sobre liderança é muito estimulante. Caso deseje se aprofundar, veja os trabalhos que serviram de referência para este artigo.

Por Ronaldo Lundgren

Possui graduação pela Academia Militar das Agulhas Negras; é Mestre em Estudos Estratégicos pelo US Army War College; e Doutor em Ciências Militares pela Escola de Comando e Estado-Maior do Exército.

1 comentário

Deixe uma resposta